sexta-feira, agosto 19, 2011

Histórias verídicas: Aparício Silvestre (Parte I)

1976. Algarve. Barlavento.
Aparício Silvestre vivia em Budéns, filho de Luís e Lucinda, donos de um negócio semi-legal de produção de sandes de moreia frita.
Como todas crianças da sua idade, Aparício cresceu a amar o boxe. Todos sabem que em 1976 não existiam clubes de boxe em Budéns, portanto tudo o que restava a Aparício era continuar o negócio da família.
Foi aos 18 anos que decidiu mudar, agitar as coisas e dar aquele passo em frente, o passo que sempre sonhara dar. Longas foram as noites a fritar moreias e a sonhar com grandes combates…

«Lou Farelos contra Roberto Martinhos. Vitória de Lou Farelos com knock-out no sétimo assalto com um gancho nas covas dos sorrisos de Roberto Martinhos»

Aparício ainda se lembrava de ouvir esse grande combate na rádio. Fora uma coisa fenomenal!
Agora, no calor das noites abafadas de Fevereiro – em 1976, antes de se falar do «efeito estufa» as estações do ano já estavam todas baralhadas e o segundo mês do ano era um mês com temperaturas a rondar os 23º C de dia, 11º C de noite. Céu pouco nublado no período da manhã com previsão de aguaceiros para as regiões do norte no período da tarde.

Ora, sendo um amante apaixonado do boxe, Aparício decide mudar-se para uma cidade grande – onde os sonhos se podem tornar realidade, onde a vida se agita com o cair do sol e nascer das estrelas.
Em busca de um sonho, Aparício, muda-se para Beja.
Não conhecendo ninguém na capital do Baixo Alentejo e sem um escudo no bolso, o nosso amigo rapidamente começou a ter de trabalhar para Alberto Costa ou Papa-Cús, como era conhecido. Papa-Cús andava metido no negócio do contrabando e da extorsão. Tabaco, colchas de renda, Coca-Cola, álcool, tudo era contrabandeado por Alberto «Papa-Cús» Costa. Ora, quando as pessoas de Beja não pagavam o “imposto”, o serviço, a “protecção” do Papa-Cús, Aparício surgia. Basicamente, Aparício era o jagunço do Papa-Cús.
Ainda durante o ano de 1976, Aparício, paralelamente ao trabalho que o sustentava, começa a participar no Torneio de Boxe da Associação Cultural e Recreativa da Zona Sul (TBACRZS) – isto depois de começar os seus treinos no Ginásio Cruz de Galinha, treinado por Mister Labunga – que em 1962 participou num grande combate na região de Lourenço Marques e que, naquela altura, ainda gozava da sua fama.
Começando o TBACRZS de forma fulgurante, Aparício ganha o apelido de “o garanhão algarvio”, tendo derrotado diversos adversários e conseguido 2 KO no 3.º assalto. No entanto, quando chegou ao último combate, o combate do título, em Janeiro de 1977, Aparício foi abordado por Papa-Cús para que perdesse – o mundo das apostas é lixado.
Aparício recusou-se e Papa-Cús vingou-se. Usando a sua influência, conseguiu que Aparício fosse para a tropa – de onde, inicialmente, se tinha livrado por comer uma dose astronómica de sal no dia da inspecção, parecendo que tinha a tensão muito alta, ou muito baixa, nunca sei bem isso.
Estávamos em 1978, na tropa, Aparício fez amizade com um tipo chamado Rui Manuel. Rui Manuel tinha uma fixação com o cabelo e com a música. Ao contrário de todos os outros soldados, Rui Manuel tinha o cabelo maior e, para grande desespero do Sargento Reis, odiava o mundo militar.
Separados pela vida, unidos pela revolta, Aparício aproxima-se de Rui Manuel. Ambos tinham aquele espírito inquebrável e irreverente. Nenhum queria estar ali, nenhum gostava de armas, de fardas e de cabelos rapados. Cada um com a sua paixão – o Aparício adorava boxe e o Rui Manuel era vidrado na música – tornaram-se os maiores amigos.
Numa das ocasiões, em que à socapa subiram para uma laranjeira que havia nas traseiras do quartel, Aparício começa a cantarolar uma música…
Fui à inspecção ao quartel da infantaria
Estava no edital da junta de freguesia
Depois de inspeccionado deram-me uma guia
Com carimbo chapado dizendo que servia.”

A letra surgira enquanto tomava banho e já andava com ela na cabeça há uns dias.
Cativado por Aparício, Rui Manuel começa a rir e a cantar junto de Aparício. Ambos riram e roearam uma laranja, enquanto olhavam o mundo azul à sua frente e pensando que aquele momento ficariam para sempre.
O tempo passou e, quando saíram da tropa, em 1981, à porta do quartel, quando se preparavam para ir cada um para seu lado, Aparício, sabendo do amor que o amigo tinha pela música, olhou para o Rui Manuel e disse: “Rui Manuel, olha, devias fazer uma música sobre isto, sobre o que aqui passámos. Devias escrever uma música sobre o facto de não quereres ir à máquina zero, sobre as agruras da tropa! Que achas?
Anos mais tarde, Rui Manuel alcançou um enorme sucesso com uma música inspirada nesta e tornou-se um dos maiores músicos de sua geração. Hoje em dia, continua a ter, em todos os concertos, um lugar, na primeira fila, marcado para o Aparício.
Aparício seguiu com a sua vida. Tentou voltar ao mundo do boxe, desta feita em Lisboa. Mas a vida é dura e Aparício foi obrigado a ir por caminhos difíceis.
Sem dinheiro, sem amigos, sem conhecimentos, Aparício entra no mundo da devassidão, da libertinagem, da meretrícia.
Arrastando o “sim-senhor” por Monsanto, Aparício sofre. Durante semanas não conseguia clientes, não ganhava um cêntimo. Vivia do que comia do lixo, do que os restaurantes deitavam fora – costumava dizer para si próprio: «as traseiras dos restaurantes são a minha cantina, a chuva o meu chuveiro e os estranhos a minha companhia». Foi um período dramático.
Certo dia, estava Aparício Silvestre a percorrer as solitárias estradas de Monsanto, quando uma tipa bonitona, rica e com um grande carro, pára e pergunta:
- Trabalhas aqui?
- Depende do que interpreta por trabalho – responde Aparício muito secamente.
- És um menino da vida?
Pouco orgulhoso da resposta que ia dar, Aparício responde entre dentes:
- Sou.
- Preciso de alguém como tu. Quanto custa uma noite contigo?
- 175 escudos.
- Combinado. Hoje vais ser o rei da noite.
E, para além de todos os seus sonhos, Aparício viveu uma noite sem igual. Antes de começar a emoção libertinosa e de ascensão social, Eduarda Luís, a mulher que o abordara na rua, leva-o a comprar novas roupas, oferece-lhe tudo o que o maior costureiro de Lisboa tinha para ofercer.
Aperaltado, com um fato lindo como nunca tinha vestido nenhum, Aparício passa a noite na gala dos CTT como acompanhante da poderosa Eduarda Luís – chefe de contabilidade dos CTT para Lisboa e Vale do Tejo.
Neste período Aparício conhece toda a gente importante da noite lisboeta. Tobias Tornozelo, director do Grupo de Amigos da Floresta Transmontana; Susana Soares, filha de um antigo jardineiro de Marcello Caetano; Rui Pinto, ourives viajante e apaixonado por filatelia; etc.
Este encontro foi o primeiro de muitos e rapidamente, o que começara como um encontro de negócios, passa a esfera empresarial e entra no campo da vida sentimental. Eduarda e Aparício apaixonam-se e a relação com a sua patroa altera-se drasticamente.
1982 foi um ano de grandes mudanças na vida de Aparício.
Mas tudo o que é bom termina.
Num passeio pela Serra da Estrela, Eduarda e Aparício decidem fazer escalada. A vasta altitude, uma rajada de vento desprende a corda de segurança de Eduarda e ela agarra-se a Aparício que, com todas as suas forças agarra a mão dela. Passado um bocado as suas forças começam a escassear e ela pede para ele a largar, ele não larga mas as mãos começam a escorregar e ela cai.
Foi o maior drama da vida de Aparício, a pessoa que ele amava, que estimava, acabara de lhe escapar entre os dedos.
Eduarda caiu, caiu, gritando de desespero. Foram intensos segundos de queda até que tudo chegou a um fim.
Aparício não conseguia acordar daquele surreal pesadelo.
Largada a corda, Aparício aproxima-se de Eduarda.
- Esfolei um joelho por não me agarrares bem! Já viste se estivéssemos mais alto? Vá lá que só foram uns 40 centímetros! Mas que raio de homem és tu? – gritou Eduarda indignada.
Aparício não respondeu mas compreendeu. Estava tudo acabado. Eduarda Luís nunca mais voltaria a confiar no nosso herói.

2 comentários:

Anónimo disse...

[url=http://www.physical-education.ru/]Физо-До[/url]— это различные системы единоборств и самозащиты предпочтительно восточноазиатского происхождения; развивались главным образом вдруг заслуга ведения [url=http://www.physical-education.ru/]Физо-До[/url]. В настоящее расстановка практикуются во многих странах мира в основном в виде спортивных упражнений, ставящих своей целью физическое и сознательное совершенствование[1].

Боевые искусства подразделяются чтобы направления, фатаморгана, стили и школы. Существуют как станет старые [url=http://www.physical-education.ru/]физическая и психологическая действие[/url], основания и новоделы.

Gisela disse...

Apesar de não compreender o que o Anónimo disse, deve ser algo com fundamento porque escreveu bastante.

Eu tenho a dizer que tens uma imaginação do caneco!
Ou então se a história é mesmo veridica, quer dizer... espero que a filha do jardineiro do Marcelo Caetano não apareça! Ou o Papa Cús, o Tobias Tornozelo, etc.

Eu gostava era de saber como é que a história de amor termina. Divórcio?
Ou algo tipo "felizes para sempre" como no filme "Um sonho de mulher"?