segunda-feira, dezembro 08, 2008

Natal sem interesses


Ia eu a caminho do meu local de trabalho...no metro, descansadinha da vida. Numa estação qualquer entram pessoas, até aqui normal. Mas eram pessoas alternativas, ora tinham brincos por sítios estranhos do rosto, ora vestidas de cor de rosa de cima a baixo. Pensei cá para os meus sapatos amarelos: "cada vez mais as pessoas têm 1 estilo próprio =)"

Nisto oiço uma rapariga a cantar, ao que os meus sapatos amarelos respondem: "já não bastava o cão pendurado no ombro dos acordeonistas e os ceguinhos rappers que ainda há cantoras!"

Ela cantava muito bem, não reconheci a música, e aquilo parecia-me tao estranho que nem dei atenção á letra. Ainda os meus sapatos estavam a suspirar quando outra pessoa começa a cantar...e outra...e outra....os meus sapatos ficaram confusos! Então mas toda a carruagem conhecia a letra da música menos eu? Durante umas duas paragens foram cantando e que melodia! UAAUUUU!
Senti finalmente o espirito natalício!
Ainda não comprei prendas e ainda não me sentia muito naquela onda, talvez por não saber muito bem onde vou passar o Natal.
Senti-me bem! Feliz por haver pessoas como aquelas, que fingiram que nao se conheciam, espalharam-se pela carruagem, sozinhas...e criaram todo aquele ambiente, sem pedirem 1 unico tostão. Agradadas por verem a nossa surpresa, as nossas expresões, caras de fadistas, caras de quem leva com o vento, sorriso a brilhar e olhos a sorrir.

Sai do metro muito mais preparada para mais uma tarde de trabalho. Quando um rapaz se dirige a mim e sem me falar espalma umas folhas na minha cara e eu pergunto que era aquilo, ele apontou para a folha e vi que era uma associação de surdos mudos. Não foi por ser Natal que dei 6 eurinhos, nem por ter ouvido aquela música no metro (apesar de isso ter ajudado), lembrei-me do meu primo com quem praticamente fui criada. Recordei o dia em que depois de ele ter visitado a Expo98 ele procurava umas moedinhas que davam no Pavilhão de Macau. Ele não as encontrava por minha casa, perguntava á irmã e ela não percebia, nem eu...nem ninguém da nossa familia. Ele desenhava e nós perguntavamos se ele queria M&M....ele na altura tinha uns 10 anos e acho que nunca o vi tao triste, chorou tanto, mas tanto porque não o compreendiamos...

Deviamos pensar mais nos outros, mas não só no Natal! E não dar uma prenda de 50€ a pensar que a outra pessoa não nos pode dar 1 prenda da loja dos chineses, porque não é justo. Esqueçam as prendas, façam os otros felizes, pensem neles na vida deles e como fazê-los sorrir.

Devo dizer que enquanto assinava o papel em como estava a dar dinheiro, eu disse-lhe meia atrapalhada por já não estar habituada a falar com o meu primo, que eu tenho um primo surdo mudo e que está na Casa Pia, ele sorriu e disse passado alguns segundos que eu era muito bonita. Fiquei com tal brilhozinho nos olhos que naquele momento nem me lembrei de como se dizia "Obrigada e boa tarde" em linguagem gestual. Fiz o que sei melhor: sorri!

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