quinta-feira, julho 10, 2008

A dor de pensar de Fernando Pessoa

Numa conversa que tive com uma pessoa lembrei-me destes dois poemas de Fernando Pessoa:

Gato que brincas na rua

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


Pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira

Julgando-se feliz talvez;

Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia

De alegre e anónima viuvez,

Ondula como um canto de ave

No ar limpo como um limiar,

E há curvas no enredo suave

Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,

Na sua voz à o campo e a lida,

E canta como se tivesse

Mais razões p'ra cantar que a vida.

Ah! canta, canta sem razão!

O que em mim sente 'stá pensando.

Derrama no meu coração

A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!

Ter a tua alegre inconsciência,

E a consciência disso! Ó céu!

Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!

Entrai por mim dentro! Tornai

Minha alma a vossa sombra leve!

Depois, levando-me, passai!


São bonitos não são? Dão que pensar. Bom...não tenho comentado os posts, porque isto é preciso uma certa inspiração para escrever o que vai na alma. Agora só deu para postar poemas. Falta o assunto surpresa e comentar os teus posts fred ;) não te aflijas que eu ainda visito o blog, tenho é menos tempo.



5 comentários:

Frederico disse...

Poemas muito bonitos e fazem muito sentido. Às vezes, quem me dera ser gato ou ceifeira.
Confesso, como acho que já te disse antes, que não sou o maior fã do Fernando Pessoa, que tanto gostas. Mas também é verdade que em alguns poemas, como estes dois - e outros -, consigo perceber o génio, para lá do absinto.

Anónimo disse...

Pois, Fernando Pessoa era um génio, e como tal sofria de dor de pensar. Que é a característica presente nos poemas que referiste.
Ele afirma que quem pensa nunca poderá ser feliz.
Pois o pensamento leva à obsessão do conhecimento.
Gosto muito desses poemas.
Eleva-nos a um ponto pelo qual passamos mas que por vezes nem damos conta...!

Catarina disse...

Olá! Sou uma grande fã de Fernando Pessoa, mas confesso que ás vezes tenho bastantes dificuldades em decifrar o que este grande génio nos quer transmitir, e em decifrar o que lhe ia pela cabeça ao escrever sertos poemas.
No entanto, nestes 2 não tive grandes dúvidas porque, tal como disse o "anonimo", como todas as pessoas que se dão ao trabalho de pensar e de se questionar sobre o que nos rodeia, também tenho as minhas épocas da "dor de pensar"... nestas alturas penso que talvez seria mais fácil ser ingorante e não me questionar sobre nada á minha volta, viver numa ilusão estúpida!

Anónimo disse...

iozjjhv

caralho disse...

isto é uma cena que a mim nao me assiste