terça-feira, julho 08, 2008

Guernica

O que era para ser um post sobre o ano de 1998, sobre o que se passou neste nosso mundo uma década antes dos dias de hoje, transformou-se num post sobre Guernica.
Antes de continuar, aviso que não vou fazer uma demorada descrição dos factores politicos e sociais que levaram à referida Guerra Civil e ao desenvolvimento da mesma.

Bom, primeiro passo a explicar como se passa de um post sobre 1998, para outro sobre um episódio da Guerra Civil Espanhola. É muito simples: em 1998, uma banda chamada Manic Street Preachers lança um album intitulado This is my truth, tell me yours e neste album estava contido o single "If you tolerate this your children will be next". Enquanto procurava músicas de 1998 lembrei-me desta. Passado dez anos continua a fazer tanto (ou mais) sentido.
Para quem esperava que abrisse este post com uma imagem do afamado quadro de Picasso Guernica, desiluda-se.

Em 1936, no dia 26 de Abril, a cidade basca de Guernica era bombardeada por forças nazis - milhares de inocentes morrem. Este foi apenas mais um episódio numa guerra civil brutal e assassina - como todas as guerras.
Há quem diga que este bombardeamento, bem como toda a Guerra Civil de Espanha foi um "tubo de ensaio" para a Segunda Guerra Mundial... é provável.
Mas há também quem diga muita coisa - nos anos 70, um professor norte-americano, chamado Jeffrey Hart, defendeu que o bombardeamento de Guernica nunca aconteceu.

A força, quer do quadro de Picasso, quer da música dos Manic Street Preachers (ou de outras músicas com a mesma temática, como "Spanish Bombs" dos Clash), reside na sua infeliz actualidade.
Quando a banda galesa diz que se tolerarmos o que se passa hoje, os nossos filhos serão os próximos a sofrer, ou quando dizem "a gravidade mantem a minha cabeça em baixo, ou então é apenas a vergonha", sabemos que essas frases continuam a ser actuais.
Milhares de pessoas vivem em condições sub-humanas no Sudão, na Serra Leoa, na Somália, etc... todos sabemos. Todos sabemos que lá se vive, diáriamente, uma nova Guernica.
Nos países ricos há quem morra porque não tem dinheiro para pagar um seguro de saúde, há quem morra de fome quando o vizinho do lado deita fora comida.
Governos não querem reconhecer a vontade dos povos - mesmo quando os povos não têm vontades violentas, apenas desejam unir-se em torno de uma pátria comum que consideram sua.
África continua podre por dentro - ainda com a força do desejo de possuir os ideais de riqueza do o colonizador branco (muitas vezes inconscientemente maligno). A corrupção e a ganância estão a destruir um continente. Talvez um dia descubram petróleo e possam ser "salvos"...
Uma nova Guernica acontece todos os dias perante os nossos olhos e nós pensamos que está lá longe. Todos nós pensamos, eu penso.
Infelizmente está mais perto do que julgamos. Centenas de pessoas trabalham em condições sub-humanas cá em Portugal.
Não precisamos de ir para África para sentirmos a dor e a tristeza infinita.
O que quero dizer com isto é que... mesmo que vejamos os problemas que passam nas notícias como longínquas preocupações, não nos esqueçamos que, provavelmente, o vizinho do lado passa por situações de dor incontrolável.
Todos os dias somos bombardeados com informação de situações dramáticas, se cada que pode tivesse a coragem de ajudar alguém, talvez os nossos netos não tivessem de viver todos os dias com novas Guernicas.
Não, não estou a ser hipócrita, porque admito que não tenho coragem. Não tenho coragem de nada.

1 comentário:

genoveva disse...

que post mais comuna...estou a brincar

Finalmente um post a sério, que mostra as tuas preocupações e a da muita gente. Infelizmente cada vez mais as pessoas são egoistas, pensam em sí porque o resto é com os outros, porque não são trabalhadores, porque estão no metro a pedir e bem que podiam estar nas obras a trabalhar no duro e a ter um ordenado.
Com as guerras é a mesma coisa, ficamos chocados com o que vemos na tv, mas parece-nos tudo muito distante. Temos pena dos iraquianos mas "desde que a guerra não chegue a Portugal, TÁ-SE BEM!".
Como as coisas estão longe e como nunca presenciámos o efeito de uma bomba, nem nunca ouvimos o som de disparos sem ser no cinema, não nos preocupamos. E até mesmo quando passam imagens de bombardeamentos na tv, parece algo surreal, tipo fogo de artificio em que julgamos não acertar em ninguém porque são apenas luzes.
Podemos mudar as coisas á nossa volta, olhar mais para os nosso vizinhos...pouco mais podemos fazer quanto ás guerras, a não ser votar nos partidos que sejam contra e fazer referendos. Mesmo assim quem convoca eleições e referendos não é o chamado "povo"...expressão que tanto odeio e que me faz lembrar as 3 ordens.