quarta-feira, março 11, 2009

Um caso de parricídio no século XIX


«Explicação pormenorizada
do
acontecimento
ocorrido em 3 de Junho [de 1835]em Aunay, na aldeia de Fauctrie
escrita pelo autor desse acto

Eu, Pierre Rivière, que degolei a minha mãe, a minha irmã e o meu irmão, e querendo dar a conhecer quais são os motivos que me levaram a cometer este acto, escrevi toda a vida que o meu pai e a minha mãe viveram juntos durante o seu casamento. Fui testemunha da maior parte dos factos, e que estão escritos no fim desta história (…)
» (p. 60)

Assim começava o relato, por Pierre Rivière, do sucedido a 3 de Junho de 1835, quando o próprio decide assassinar sua mãe, sua irmã e seu irmão.

«Tomei pois essa decisão terrível, resolvi-me a matar os três; as duas primeiras porque estavam de acordo em fazer sofrer o meu pai, para o menino tinha duas razões, uma porque ele gostava da minha mãe e da minha irmã e outra porque eu receava que se matasse apenas as duas, o meu pai apesar de ficar horrorizado me lamentasse quando soubesse que eu morrera por ele, eu sabia que ele gostava desse filho que era inteligente, e pensava que ele ficaria de tal modo horrorizado comigo que exultaria com a minha morte e que assim, livre de remorsos, viveria mais feliz.» (pp. 98 e 99)

Toda esta história pode ser encontrada no livro Eu, Pierre Rivière, que degolei a minha Mãe, a minha Irmã e o meu Irmão... – um caso de parricídio no século XIX, um estudo levado a cabo por uma equipa de investigadores, dirigidos por Michel Foucault.
Além das memórias de Pierre Rivière, encontramos no livro, análises, diversos dados processuais e notas que nos ajudaram a compreender não só as motivações, os acontecimentos e o futuro do assassino após o crime.
Juntamente com o chocante caso relatado, o livro oferece-nos uma excelente descrição das relações sociais, da organização de uma sociedade agrícola, da forma e procedimento das autoridades e da organização das cidades, campo e aldeias em França.
Pessoalmente, gostei muito do livro, embora tivesse sido de muito difícil leitura. Não por ser monótono ou aborrecido – antes pelo contrário – mas pelo caso em si. Foi chocante ver as desculpas que Rivière arranjou para cometer tal crime, foi chocante conhecer os pormenores do crime e a forma como o seu autor enfrentava o seu destino após a prisão. Num certo nível fez lembrar-me a Crónica de uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez.
O caso acabou por ser expresso num filme de 1976, realizado por René Allio, intitulado Moi, Pierre Rivière, ayant égorgé ma mère, ma soeur et mon frère...
Quem gosta de história, acho que vai gostar muito do livro, quem não gosta, acho que também gostará.

Bibliografia:
Foucault, Michel. Eu, Pierre Rivière que degolei a minha Mãe, a minha Irmã e o meu Irmão... Vol. 10. Lisboa: Terramar, 1997.

1 comentário:

genoveva disse...

Agora fiquei com vontade de comprar o livro...mas tu emprestas nao emprestas? =)