sexta-feira, janeiro 23, 2009

Porquê História?

Há dias em que me pergunto: porquê História?

Na escola nunca a apreciei muito. Chegava a preferir Matemática, depois quando essa começou a complicar-se as coisas mudaram.
Cheguei ao 10º ano com notas não muito populares mas decidi mudar esse aspecto e empenhei-me ao máximo. Dei por mim a ser uma das melhores alunas e aplicava-me como muita gente não o fazia. Duas semanas antes dos testes já estava a marrar mesmo não tendo dado a matéria toda.
As disciplinas eram práticas, há quem pense que Artes é para gente esquesita ou que não fazem nada mas não é bem assim. Aquelas disciplinas eram muito trabalhosas e davam muito que pensar, fazer, apagar, re-pensar e re-fazer. Por entre tanta disciplina e tanto professor cativante tive uma cadeira na qual conseguia sobresair. No geral as notas não eram muito altas porque a professora era exigente, mas ai sim, tinha a certeza que ninguém conseguia competir comigo. Adorava História da Arte e ir para aquelas aulas escuras (com slides) ouvir a professora Graça Vergani, era sempre um prazer! Ela chamava-me "Giselinha" e sorria sempre que dizia o meu nome, apesar de me segredar ao ouvido quando eu pedia uma 2ª ou 3ª folha de teste: "oh giselinha não escrevas tanto filhaaaa".
Concluí o 12º ano com 17 aninhos e não sabia que fazer ou o que seguir, fui falar com a psicóloga que me perguntou qual a disciplina que eu gostava mais porque era a partir daí que devia pensar. Depois pensaríamos nas notas, médias e entrada. Passado uns tempos dei por mim com uma folha na mão a preencher as opções para entrar numa faculdade.
A primeira opção foi História da Arte na Nova, a 2ª foi HMC no nosso Iscas. Não entrei na 1ª fase na Nova e por desleixo e numa de "é destino e logo se vê", não me candidatei à 2ª fase ( e tinha entrado se tivesse concorrido).
Fiz o 1º ano da licenciatura...
Fiz o 2º...
E ainda pensava nas minhas aulas de História da Arte que tanto contrastavam com o excesso de história política no ISCTE. Mas já que estava tão avançada não era por isso que ia desistir e assim terminei a licenciatura ainda com o bichinho da Arte, Património e Cultura.
Havia dias em que pensava: porque é que escolhi isto? Se não tivesse sido História teria sido o quê? Será que tenho jeito para isto? Será que sou boa nisto? Eu nem acho piada a politiquices!
Até que recebi uma resposta no 3º ano da licenciatura e ontem mais outra.

No 3º ano na cadeira de Laboratório de História, fiz com o Frederico e com o Pedro um trabalho sobre Casas do Povo. Talvez o único que compreendeu o que senti tenha sido o Frederico, mas acho que ele não chegou a sonhar com as pessoas com quem falámos nas entrevistas (fontes orais). Eu acordava e deitava-me a pensar no trabalho. Cada dia que passava ia-me envolvendo cada vez mais e mais, ora com o trabalho, ora com os entrevistados. Nunca esquecerei esse trabalho, que foi para mim o melhor que alguma vez fiz, porque o fiz de coração e não por obrigação. Senti e sinto cada vez que penso nele, que fiz a escolha certa e que História tinha que estar no meu caminho. Não quer dizer que tenha nascido para ser historiadora, mas sinto-me bem como tal.

No meu trabalhinho faço visitas guiadas a cerca de 3 ou 4 pessoas, nunca há muitas mais. Mas ontem apareceu um grupo de 18 pessoas, estava nervosíssima, passei uma semana a pensar neste grupo gigante. Nunca gostei de falar em público e as apresentações de trabalhos nas aulas eram um sacrifício.
Por vezes contar uma anedota a 3 ou 4 pessoas e ser o alvo de toda a atenção torna-se complicado para mim. Mas ontem o discurso fluía, não me atrapalhei, não gaguejei e consegui entoar o que dizia com uma voz afirmativa, forte e sem receios de errar. Coloquei bem a voz, fui muito expressiva e consegui ver aqueles olhinhos todos a brilhar com o que ouviam, por vezes até a sorrir, apesar de terem um olhar tão triste. Demorei cerca de 1 hora, tanto como das outras vezes mas foi tudo muito mais intenso!
No final sorri e pensei: "cumpri!". Quando já me tinha despedido do grupo e de ouvir muitos agradecimentos, um senhor veio ter comido apertou-me a mão e disse "Obrigada por tudo, você foi excelente! a falar...foi excelente! muitas felicidades". Não foi a primeira vez que me disseram esta palavra: "excelente". Numa outra visita guiada a apenas 2 pessoas também me foi dita e despediram-se de mim com beijinhos e tudo. Sabe tão bem, senti-me especial e senti finalmente que talvez este seja mesmo o meu caminho e que estou a aprender e a evoluir enquanto historiadora e pessoa com ele. Até mesmo as Relações Públicas notam diferenças na minha forma de falar e de estar.

E vocês?

Sentem que nasceram para serem historiadores?

2 comentários:

bilma disse...

Bem, se eu escrever aqui a verdadeira resposta fica tudo a achar que sou louca, por isso vou dizer só uma parte...que no fundo não é mentira. Sempre gostei de História, acho que, desde o 7º ano passou a ser a minha disciplina preferida. Tive a melhor professora (de todo o meu percurso académico até ao 12º) a História que, sem dúvida foi uma motivação. A escolha acabou por ser, naturalmente, romântica.
Fico feliz por ti Gisela e espero um dia alcançar também algum nível de realização, no que toca à História.

Frederico disse...

Não sei se nasci para ser historiador. Como a maioria dos rapazes sempre gostei mais de correr e jogar à bola do que história e, como tu Gisela, também fui para artes no 10º. No entanto, as melhores notas que tive até ao 9º eram sempre história e ed. física - aliás a primeira vez que tive 5 foi a história. Mas sempre gostei e quando andava na escola primária costumava acabar os trabalhos primeiro que os outros meninos e ficava a fazer mapas de Portugal ou a escrever cronologias dos reis de Portugal... Quando tinha uns oito anos li o meu 1º livro de história - era para crianças e tinha a h. de Portugal toda resumida. Mas nascer para ser algo... gosto muito de história, mas ser historiador... não sei se teria capacidades.