sexta-feira, janeiro 23, 2009

sulcos da juventude

Hoje decidi escrever sobre crianças, adolescentes e jovens, motivada por uma música, um tanto ou quanto pesada. O grupo é Roll Deep e o track intitula-se Respect Us.

A delinquência sempre me chamou a atenção, embora não goste do rótulo. A questão, na minha opinião, está na compreensão e no respeito. Mas, por outro lado, também entendo quem já tenha sido lesado por este problema. O que me parece, é que não existe um grupo nas escolas para fazer a prevenção. Vidas podem ser salvas, literalmente. E vidas podem ser salvas de entrar no mesmo ciclo em que os seus pais foram apanhados.

Penso na realidade portuguesa e principalmente no Cacém, no (belo) sítio onde vivo. Aqui há, para já, uma mistura de culturas e raças que não se entendem e não se respeitam. As crianças têm uma percepção da realidade, muitas vezes, distorcida e se um adulto não as ajuda a compreender elas irão crescer e desenvolver as suas crenças sobre essas distorções. E passo a ilustrar: até eu ter idade de ir para o infantário eu nunca percebi porque é que alguém não havia de quer brincar comigo por eu ser preta e se em casa a minha mãe não conversasse comigo sobre o assunto eu penso que não iria saber resolver este problema que tinha comigo mesma. Porque, no fundo, a verdade é que isto é uma coisa que as pessoas têm de resolver sozinhas. Compreender-se a si próprias e aceitar que há pessoas que nunca vão gostar dessa diferença, nem respeita-la.
Os gangs querem ser respeitados, quase aceites à força. Muitas vezes não é pelo dinheiro ou pelas coisas que roubam, mas sim uma questão de honra. Uma vez vi um rapaz crescido na rua onde um autocarro parou, cheio de miúdos pequenos. O rapaz crescido obrigou os miúdos, que estavam dentro do autocarro (note-se), a passarem-lhe moedas pelas janelas do autocarro!!!! Moedas de 5 ou 10 cêntimos!!!

Se um professor tratar os alunos com respeito será mais fácil para os alunos respeitarem-no. Não digo que o aluno e o professor se encontrem no mesmo nível, apenas que se respeitem mutuamente. Não percebo porque acham certos professores, que os alunos não merecem ser respeitados.
Ninguém está interessado em ouvir os alunos, delinquentes ou com boas notas e de boas famílias! A escola como instituição deve respeitar o aluno. Li há pouco, palavras do Daniel Sampaio, que o estatuto do aluno deve ser feito com os alunos. Se isso fosse feito, tenho quase a certeza que os alunos iriam respeitar a escola e os professores num nível mais elevado, de compreensão.
Outra coisa que me espanta é que não sejam atribuídas, aos jovens, as responsabilidades próprias das idades. Por exemplo, jovens até aos 17 anos não podem sair da escola sozinhos fora do horário da escolar, mas o 12ºano nem é obrigatório. E pior, um ano depois já têm maturidade para votar ou conduzir um carro. Para mim não faz sentido. Se por um lado, os jovens são mais livres não são mais autónomos.

O meu sonho é fazer esta prevenção nas escolas básicas e secundárias que acho urgente e óbvio. Um grupo de assistentes sociais e psicológicos e uns bons patrocinadores... que havia de arranjar, era o suficiente. Podia fazer-se um plano em que os professores deviam detectar os adolescentes ou jovens em risco e encaminha-los para uma equipa de pessoas competentes. Essa equipa teria o objectivo de ajudar o aluno a criar asas, para que mais tarde ele pudesse voar sozinho.
Penso que muitas famílias não incentivam os jovens a estudar, a valorizar a escola, a motiva-los e faze-los crer que, também eles, podem ter uma vida melhor, para si e para os seus futuros filhos. As suas famílias deveriam ser envolvidas no processo, bem como a partilha de experiências e incentivos de outros jovens, que um dia se encontraram no lugar deles e hoje são bem sucedidos.
Os rapazes precisam de apoio, de alguém que os ouça, que lhes pergunte quais são as suas necessidades e que os ajudem a fazer escolhas. É preciso que os respeitem para que eles também percebam como podem fazer os outros respeitarem-nos, sem ser com facas e assaltos.

Não sei se se lembram mas, quando fiz o trabalho de projecto de investigação, para a cadeira do prof. Maurício, eu escolhi a delinquência juvenil. Na pesquisa que fiz para o trabalho descobri que existem, se não estou em erro, uns 10 ou 11 centros de reabilitação para menores, descobri também que os rapazes adoram estes sítios, e porquê? Ora, porque alguém os ouve, alguém se importa com o que eles querem fazer, no que eles se irão tornar. E voltam a cometer delitos só para voltar para os centros de reabilitação novamente! È tarde de mais!
Por isso, se esses centros fossem transformados em perversão, em vez de serem apenas castigos decretados pelo tribunal, acredito que a criminalidade descia e o abandono escolar também

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu também moro num (belo) sitio onde há problemas do mesmo género. Não tanto na minha freguesia mas e rara a pessoa que não oiça o nome da minha cidade e não se assuste, mas só quem vive nela percebe que a maior parte das coisas que se ouvem e veem na tv é nos bairros.
Acho que em casa os pais não explicam nada e por vezes até devem incentivar a algum tipo de comportamentos.
Os pais têm piadas racistas, e quando veem um cigano atiram um comentario qualquer, lembram-se de uma anedota...
na escola as crianças que se tornarão jovens fazem grupinhos. É um comportamento normal, pelo menos antes era: os betos, os dreds e não sei quê. Mas cada vez mais estes grupinhos se vão fazendo atraves de coisas que não são só aspectos culturais como a música ou forma de pensar.
Não há respeito por ninguém, nem os alunos têm pelos profs. nem os profs mts vezes pelos alunos, nem de aluno para aluno.
Não sei o que se passa nem qual a melhor solução para este tipo de problemas, seja na escola ou fora dela, visto que é de pequenino que se torce o pepino...

Frederico disse...

Mesmo morando num local mais pequeno que o vosso, sei do que se trata e também aqui existe esse problema (que já foi maior) - os "índios da meia praia" sempre foram olhados com desconfiança por grande parte da população.
É um sonho bonito, esse que tens de ajudar a acabar com desigualdades, Vilma.
Além do que enunciaste acho que o dinheiro e o estatuto social sempre andaram de mãos dadas. Quem mais tem, muitas vezes se sente superior a quem menos tem, que acaba por usar a agressividade como mecanismo de defesa e depois estas coisas passam de pais para filhos e muitas vezes cria-se a ideia de que como as pessoas que moram em lugar X têm pouco dinheiro e são agressivas, aqueles lugares são diferentes e depois é como uma onda, em que tudo vem em consequência e é misturado.